Muitos se perguntam se ainda existem povos indígenas sem contato com a sociedade não indígena no Brasil. Algumas pessoas nem sequer sabem da sua existência, mas existem e estão sob perigo.
A Funai (Fundação Nacional do Índio) reconhece a existência de 115 povos em isolamento voluntário, que ela denomina de “índios isolados”. Algumas entidades não governamentais afirmam ter mais etnias do que a quantidade apresentada pela Funai.
Esses povos decidiram se manter “isolados”, marcados por todo histórico colonial de violência, doenças e genocídio, e se encontram majoritariamente na Amazônia. Após muita luta do movimento indígena e seus parceiros foi instituída a política de não contato no Brasil, importantíssima para a sobrevivência dessas comunidades.
O território onde vivem os indígenas isolados Piripkura está entre os maiores índices de desmatamento e sofre com imensa pressão do garimpo ilegal
No entanto esses grupos estão cada vez mais sob risco de serem dizimados. Em 2021, foram registradas pelo menos três mortes de indígenas Moxihatëtëa, considerados isolados, na Terra Indígena Yanomami.
O território onde vivem os indígenas isolados Piripkura está entre os maiores índices de desmatamento e sofre com imensa pressão do garimpo ilegal, sem deixar de comentar a inércia em concluir o processo demarcatório e em renovar as portarias dessa terra indígena.
O Vale do Javari, terra indígena com maior concentração de indígenas isolados no Brasil, vem sofrendo com pressões e omissão dos órgãos de proteção. As últimas notícias do território são sobre a invasão de garimpeiros ilegais que embebedaram indígenas para cometer abusos sexuais contra as mulheres.
Na Terra Indígena Uru Eu Wau Wau existem quatro povos em isolamento voluntário, que estão ameaçados pelas invasões e por mais um ataque do governo através das ações do MMA (Ministério do Meio Ambiente). O MMA junto com o gestor do Parque Nacional de Pacaas Novos, que é sobreposto a TI Uru Eu Wau Wau, criaram um conselho excluindo os povos indígenas Jupaú (Uru Eu Wau Wau), Amondawa e Oro Towati, as ONGs (organizações não governamentais), as organizações indígenas e a própria Funai de sua composição, desrespeitando as leis que tratam sobre gestão das terras indígenas.
A intenção do atual governo em relação aos povos indígenas em isolamento voluntário ou já contactados no Brasil é genocida e escancarada, como pode ser vista na fala do presidente Jair Bolsonaro no dia 16 de abril de 1998 na Câmara dos Deputados e que não mudou desde então: “Até vale uma observação neste momento: realmente a cavalaria brasileira foi muito incompetente. Competente, sim, foi a Cavalaria norte-americana, que dizimou seus índios no passado e hoje em dia não tem esse problema no país”.
Txai Suruí é coordenadora da Associação de Defesa Etnoambiental – Kanindé e do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia