Preste atenção à dança de raios que rasga o velho véu
Como luminosos fogos de artifício a brilharem no céu
Siga o chamado inquietante que há no estrondo perturbador deste trovão
Ouça o grito aflito que ecoa a voz de uma geração
Por justiça, empatia e libertação
Foi [só]assim que a humanidade enxergou a desumanidade da escravidão!
A força da natureza impõe ao tempo indeléveis sinais
Incitando a rosa de muitos ventos
À realizar sutis movimentos
E apontar novos pontos cardeais
Racismo, ladrão de sonhos, manipulador de destinos!
Teu credo é legado maldito impresso na memória
Manchaste de lágrimas e sangue [todas] as páginas do livro da nossa história
Deleitas-te em ver a raça humana trafegar às cegas pela contramão
Tua lei é” Irmão contra irmão”
Teus súditos sutis veem escorrer sangue inocente
E lavam as mãos
Como Pilatos, regam a terra com o fel da própria obstinação
Mas
Movidos pela esperança de chamar meu céu de “seu”
Confinados no moderno Coliseu
Futuro e passado se enfrentam frente a frente na arena
[Já assistimos a essa cena]
E a antiga crença empunha sua lança
Ensaiando repetir os passos de uma velha dança
E se lança contra toda ânsia por justiça e liberdade
Mas
Justiça e Liberdade só serão verdade
Se forem inteiras
Nunca pela metade
E a Liberdade tem pressa
Porque custa alto preço
A quem a conhece apenas pelo avesso
Por isso é preciso recontar [mil vezes] a história toda
Do fim para o começo
Neste jogo de dados
O tempo [ainda] é aliado
Mas o presente lança seus dardos
E tenta escapar por entre os dedos
Mas ainda é cedo
Ele está em nossas mãos
Clamando por [mais] ousadia, sensibilidade e prontidão
Porque o planeta entrou novamente em ebulição
Para que se evapore da face da terra
Todo vestígio
Do opróbrio da escravidão
Henrique Schneider Neto é promotor de Justiça.