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quarta-feira, abril 24, 2024
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Ganhar no tapetão

O presidente Bolsonaro vem usando, ha tempos, essa tática do mau futebol: “ganhar no tapetão”. A medida em que a CPI avança e pode comprometer seu governo, inclusive jogando por terra a promessa de combate à corrupção, e as pesquisas demonstram que é possível perder já no primeiro turno e que, há grande chance de perder no segundo turno para Lula, Ciro e Dória, o tom das agressões e bravatas aumenta.

O mais recente é dizer que não haverá eleições se a sua proposta, via deputada Bia Kicis, de voto impresso não ser aprovada. Não aceitará o resultado e aí, então, vamos pro tapetão militar, para o golpe de estado. As oportunas falas dos presidentes do Senado e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e Luis Roberto Barroso, que também se manifestarem contra os ataques de Bolsonaro, mostram que as instituições começam a levar a sério as ameaças, não são retóricas soltas, mas, plano organizado de continuidade no poder, mesmo sem aprovação popular. De acordo com a cientista política Maria Tereza Sadek-USP, Bolsonaro “tem atuado no sentido de atingir ao máximo todas as instituições e seguirá fazendo isso progressivamente se não houver uma reação das instituições e da sociedade à altura”.

O mais recente é dizer que não haverá eleições se a sua proposta, via deputada Bia Kicis, de voto impresso não ser aprovada
Como ele sabe que está perdendo apoio popular, está jogando, mas de modo muito perigoso, colocando em risco o estado democrático de direito”.(G1). Acuado por pesquisas de opinião que apontam picos de alta rejeição e amplo favoritismo de seu provável adversário em 2022, Bolsonaro intensificou nos últimos dias declarações que questionam o sistema eleitoral brasileiro e traçam o roteiro de como o presidente deve se comportar numa eventual derrota nas urnas. Sempre sem apresentar provas, insiste que haverá fraude no ano que vem e que o resultado já estaria definido. Subindo o tom nas ameaças, ele também afirmou que as eleições podem simplesmente não ocorrer caso não haja um sistema confiável –segundo ele, o voto impresso. Assim, Bolsonaro se vê pressionado a reforçar os laços com sua base mais fiel e ideológica, militância aguerrida nas redes sociais, com fake news, por exemplo. Num momento de profundo desgaste, é prioridade para evitar um derretimento em sua avaliação positiva para níveis inferiores aos atuais, considerados um colchão seguro contra a possibilidade de um impeachment é prioridade.

Daí, a nova e cara moda das motociatas- passeios caros que todos pagamos: avião, tripulação, seguranças, para dar impressão de apoio popular. O problema é que o repertório até então usado vem se esgotando. A discussão sobre a cloroquina, por exemplo, perdeu força e sumiu dos debates com o avanço da vacinação e as novas revelações na CPI. Com isso, as declarações sobre possíveis fraudes nas eleições, embora sem embasamento, converteram-se no novo mantra para mobilizar a militância mais aguerrida. “A fraude está no TSE, para não ter dúvida. Isso foi feito em 2014”, declarou Bolsonaro (9/7), repetindo a acusação infundada de que o então candidato Aécio Neves (PSDB) teria vencido o pleito contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT). A afirmação de Bolsonaro foi contestada pelo próprio dep. Aécio, que disse não acreditar que tenha existido fraude naquela eleição. Em confissão de possível derrota, ele reconheceu: “Não tenho medo de eleições, entrego a faixa para quem ganhar, no voto auditável e confiável. Dessa forma atual, corremos o risco de não termos eleição no ano que vem”, acrescentou.

Em conversa com apoiadores, ele sugeriu ainda que o resultado das eleições do ano que vem já estaria decidido. “Já está certo quem vai ser presidente, como está aí. A gente vai deixar entregar isso?” e, aduziu ainda: “Porque algum lado pode não aceitar o resultado. Este algum lado, obviamente, é o nosso lado, pode não aceitar o resultado”, e de forma agressiva, atacou o ministro Luiz Barroso- presidente do TSE, a quem chamou de “imbecil” e “idiota”. Por mais que queiramos minimizar tais declarações, não dá para aceitar, partindo de um Presidente da República, que jurou respeitar e defender a Constituição Federal e vem, rasgando-a diariamente. Se isto não configurar crime de responsabilidade- art. 85 da CF, o que será?: “Ele é assim mesmo, dizem seus apoiadores, fala a verdade na cara”. Atacar o Estado Democrático de Direito, as instituições de Estado- STF, Congresso; ameaçar com o uso das Forças Armadas- “meu exército” são falas normais, equilibradas de um mandatário nacional?

As pesquisas vem mostrando que não, apontando sua desqualificação para o cargo. O ministro Barroso e o presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), reagiram às ameaças golpistas de Bolsonaro. Pacheco disse que “todo aquele que pretender algum retrocesso ao estado democrático de direito esteja certo que será apontado pelo povo brasileiro e pela história como inimigo da nação”. Barroso afirmou, em nota, que qualquer tentativa de impedir a realização de eleições em 2022 “configura crime de responsabilidade”.

É uma reação que precisa ser meditada e aceita, se quisermos evitar um novo 1964, que muitos de nós, vivemos.e, sem dúvida, com os avanças das redes sociais, da tecnologia digital, sequer sonhada naquela época, estaremos diante da destruição do país, de verdadeira guerrilha urbana incontrolável, visto o desenvolvimento e maturidade do povo, suspeitam os especialistas e políticos sérios e preocupados com o cenário político atual.

Pesquisa recente Datafolha aponta que, além de a maioria dos entrevistados avaliar o presidente como desonesto, falso, incompetente, despreparado, indeciso, autoritário e pouco inteligente, sua reprovação atingiu novo recorde: 51%. Um cenário nada animador que reclama um novo discurso, pois as promessas de 2018, estão sendo todas rasgadas diariamente. “Bolsonaro sabe que está perdendo e está adotando a estratégia trumpista de mentir diante da derrota. Essa estratégia tem precedentes fascistas ao colocar o culto a si mesmo sobre o país”, disse o prof. Federico Finchelstein, professor de História da New School for Social Research, em Nova York e autor dos livros: Uma breve história das mentiras fascistas” e “Do fascismo ao populismo na história”.

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), aliado incondicional, parece começar a acordar para a gravidade política do momento. Afirmou, em nota: ”Em uma hora tão dura como a que vivemos hoje, saibamos todos que o Brasil sempre será maior do que qualquer disputa política. Tenhamos todos, como membros dos poderes republicanos, responsabilidade e serenidade para não causar mais dor e sofrimento aos brasileiros. Reitero o meu compromisso; a Câmara avançará nas reformas, continuará a ser o poder mais democrático e plural do país e não se deixará levar por uma disputa que aprofunda ainda mais a nossa crise.

A Câmara será sempre a voz de um povo livre e democrata e sempre estará pronta para ajudar o Brasil a continuar a crescer e se encontrar com seu destino de país desenvolvido e socialmente justo”. Ainda dá tempo de virar o jogo, e evitar o tapetão. Acordemos, povo brasileiro.

Auremácio Carvalho é advogado

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