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quinta-feira, abril 25, 2024
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Afinal, quem é a vítima e quem é o agressor?

Acompanhar situações de violência contra as mulheres é saber que, em grande parte, eles as culpam pelo fato. Sim, o agressor sempre diz que cometeu determinado ato por culpa delas, ou, ainda, que se elas não resolverem sobre algo que ele causou, elas serão as prejudicadas.

Parece brincadeira, porém é mais frequente do que o imaginado. Em se cuidando de ações que envolvem violência doméstica e familiar, por exemplo, as mulheres são agredidas e, com temor, lavram boletim de ocorrências. Se do relacionamento advieram filhos ou filhas, há necessidade de o homem prestar os devidos alimentos, dividindo as despesas primordiais ao desenvolvimento dos rebentos. E o que muitos dizem?

Enquanto você não desistir das medidas protetivas, não poderei prestar alimentos por culpa sua, pois, no meu serviço estão querendo me mandar embora porque respondo a uma ação de violência doméstica. Ah, outros ainda falam: “Ou você retira a ação, ou sairei do trabalho e não poderei pagar alimentos”. E a culpa? E o ônus com os filhos os filhas? Tem exceção, senão não seria regra.

Dia desses a mídia mostrou determinado cantor participante de reality brasileiro que cometeu ato de violência contra a mulher dentro do programa televisivo. Por ter perpetrado tal ato, foi expulso. Esse mesmo artista já responde por pelo menos duas ações de violência doméstica por agressão a ex-companheiras.

Agressor sempre diz que cometeu determinado ato por culpa delas
Pois bem. Após ser retirado do programa por culpa exclusivamente sua, afirmou que se encontrava em depressão e que a culpa da respectiva doença adquirida, ou da prática de possível suicídio por ele, seria da emissora de TV e das pessoas que estavam o culpando de ter cometido crime contra a mulher.

Crianças mal tratadas de quem é a culpa? Mesmo que a mulher também trabalhe fora de casa, se o ambiente doméstico não se encontra perfeito, de quem é a culpa?

Quando o homem possui uma companheira e se encontra vestido inadequadamente, de quem é a culpa? Quando a mulher é violentada sexualmente, teria ela contribuído para que ele cometesse o delito?

Quando o relacionamento não está caminhando conforme o esperado, geralmente se diz que ela não soube ‘cuidar’ do casamento. Até as traições de outrora eram atribuídas a elas, por não terem sido capaz de ‘satisfazer’ o companheiro.

E quando eles serão os responsáveis pelos respectivos atos? Quando entenderão que as atividades de casa e com os descendentes devem ser divididas? Quando entenderão que o ‘não’ é, de fato, ‘não’? Quando saberão eles ‘cuidar’ do relacionamento, se é que existe cuidado para tanto?

A igualdade de gênero deve ser algo natural, do cotidiano. A prática de ato delituoso deve ser atribuída àquele ou àquela que o cometeu, sem que desculpas possam existir, de qualquer lugar que provenha.

Afinal: quem é a vítima e quem é o agressor?

Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual.

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