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terça-feira, abril 23, 2024
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Ideias e ideologias

“Ideologia é entendida como o sistema de ideias, crenças, juízos de valor, atitudes e opções quanto a fins e objetivos, que fica em segundo plano, e que ao mesmo tempo é a origem de opiniões, decisões e ações que os indivíduos adotam nos assuntos sociais e políticos”. É assim que a Enciclopédia Herder, da Herder Editorial, de Barcelona, conceitua o termo ideologia.

Este termo foi introduzido no vocabulário político pelo filósofo francês Destutt de Tracy, que viveu entre 1754-1836, que atribui a origem das ideias humanas às percepções sensoriais do mundo externo.

Historicamente foi atribuída a este termo uma conotação pejorativa de autoritarismo de idéias, como o domínio de uma classe social sobre outra.

Atualmente este termo se manifesta como uma demonstração robusta de conflitos entre seguidores de uma ou de outra corrente política, em qualquer situação carregada de ódio gratuito, cujo destino certamente não será muito bom.

Não importa se a sua ideologia seja de esquerda ou de direita, conforme foi enraizado na construção mental de muita gente, pois todos têm direito a uma ideologia. Ela faz parte do referencial que garante a cada um a forma como percebe o mundo a sua volta. E perceber o mundo permite a cada um escolher o caminho a seguir.

Entretanto, no Brasil esses caminhos têm sido balizados por disseminação e incentivo a um ódio que coloca em risco a nossa convivência democrática. Ainda mais quando há um incentivo proposital para aquisição de armas de fogo, como se estivéssemos na iminência de algum ataque inimigo, só se for de alienígenas.

Essa visão ideológica de um mundo onde a arma passa ser a referência de afirmação de uma nacionalidade forte, só demonstra a ausência de uma racionalidade mais condizente com os princípios pautados na nossa Carta Magna. Desse modo, a cada passo em direção a um povo armado, certamente estaremos nos afastando de uma convivência baseada no respeito e na aceitação do outro como um legítimo outro, transformando esse outro em um inimigo, ou bem próximo disso.

Recentemente recebi algumas mensagens de pessoas que se diziam amigas, fazendo críticas severas contra meus textos, tentando me acusar de cumplice dos governos anteriores, considerados corruptos e me rotulando como esquerdista/comunista. Afirmando que, nos Estados Unidos, comprar arma é muito fácil.

Ora bolas, se alguém pretende comparar o povo americano com o nosso povo, achando que lá é muito melhor, o que ainda está fazendo por aqui?

Já fui insultado muitas vezes porque não sigo bandeiras alheias; não sou boneco de ventríloquo que só consegue reproduzir a voz que lhe foi projetada por outra pessoa.

Tenho orgulho em afirmar que não sou nem direita nem esquerda nem do chamado centro. Construo meu caminho ideológico em função de avaliações permanentes da situação das pessoas que sofrem neste País, que passam fome, que adoecem sem necessidade de ficarem doentes, que não conseguem um trabalho decente, que são surrupiadas em seus direitos por uma politicagem de pior qualidade, incluindo aí todo espectro político ideológico.

Já perdi amigos, amigos de alto coturno intelectual, doutores, até doutores em bioética, porque uns me acusaram de ser de direita, outros de que sou um esquerdista contumaz. O que reafirma a dicotomia em que vivemos, cada lado enclausurado em seu brete ideológico, uma reconfiguração que faço do mito da caverna de Platão, só conseguem perceber a própria sombra, ou seria a própria sobra do que resta de humanismo em certos seres humanos?

Para quem não conhece a palavra, brete é um corredor estreito, de madeira, por onde o gado é obrigado a passar em direção ao matadouro.

A cada dia sinto a necessidade premente de que o Brasil precisa rever a sua política educacional, porque a que temos, cuida dos meios sem considerar o objetivo final – construir sujeitos autônomos que saibam (com)viver, operar esta grande Nação, não como um balaio de gatos, mas como uma sociedade de compartilhamentos, de inclusões reais, onde o sentido de Pátria também faça parte desse mesmo significado.

Em seu livro “Método 4 – As ideias”, Edgar Morin fala do poder das ideias, que nos comandam, mesmo que imaginemos que nós as comandamos. Para Morin, a arma mais perigosa do mundo é a mente humana, pois foi a partir das ideias, das ideologias paridas de muitas mentes, algumas vezes apenas de uma, é que o mundo fabricou bombas atômicas, iniciou guerras que mataram milhões de seres humanos.

Tudo isso porque algum governante, possuído pela própria mente, resolveu atacar outro povo, não o país, porque país é um ente abstrato, o que se ataca é o povo, são as pessoas, os seres humanos.

Cá estou em minhas reflexões a olhar sobre esta Pátria amada, onde o ódio se espalha como fogo em capim seco, incentivado por seu governante, aquele que tem a responsabilidade de pacificar o Estado brasileiro, pois é essa a função/missão de qualquer governante. Infelizmente a nossa história registra poucos, muito poucos estadistas, aqueles que governam em função dos interesses do povo e não em reeleições.

Ao espalhar o ódio, a dissidia, a insuflar o povo para que se arme e defenda uma pretensa liberdade que só existe em sua cabeça obsediada pelo rancor e por alguma mágoa atávica, talvez resultante de sua frustração como militar, por isso se cercou de generais para os humilhar com suas ordens estapafúrdias, o suserano destrói os laços que unem o povo e nos tornam uma Pátria verdadeira.

Este é o País das Olimpíadas de sucesso, da pobreza que empobrece ainda mais, da vacinação a conta-gotas, das motociatas inconsequentes e dos palavrões contra as instituições seculares. Tudo para que o governante tente se garantir como machão, aquele que manda, mas não obedece às leis brasileiras.

Relembro que aos machos só resta uma única e exclusiva função, a reprodução, nada mais além disso, por essa razão não sabe fazer outra coisa que não seja fruto de uma ignorância abissal.

Pobre País, que precisa ser reinventado, que carece de um estadista no comando, que construa uma política educacional para que os estudantes consigam aprender a viver, que possam ser homo sapiens e não homo faber, aquele que só saber fazer alguma coisa, muitas vezes sem saber para que servirá, porque não foi ensinado a pensar que a vida deve ser baseada na convivência, no fato de compartilhar o seu viver com todas as pessoas que estejam ao seu lado ou próximas de si.

É por essa razão, por perceber um País esfacelado em múltiplas fatias, cada uma querendo beber sozinha toda a água, e comandado por uma casta encastelado no poder sem pretender largar o osso.

Para isso, transformaram o Congresso Nacional em um balcão de feira livre, onde criam jabutis e jabuticabas que serão devoradas em um conluio absolutamente criminoso. O Povo? Ah! Isso é só um detalhe!

José Pedro Rodrigues Gonçalves é doutor em Ciências Humanas.

 

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