É possível a existência de algo fora da mente? Explico, perguntando. É possível que tenhamos ideias sem que haja correspondência com o mundo sensível?
Os seres ditos racionais (sem entrar na questão filosófica de ente e ser etc.) fazem julgamentos, diferenciam situações e tomam partido. Essa capacidade em escolher traz com ela um conteúdo anterior, sopesado no instante final do acolhimento de uma opção.
Contudo, há que se homenagear o último citado filósofo quando a isso chama de percepção. Se existe ou não ‘ideias abstratas’ pode ser assunto para outro Bedelho.Filosófico; por ora, contentam-se com o posto até agora.
Assim, não se deve assustar com os julgamentos dos ditos racionais, repita-se. A forma da abordagem cognitiva de cada qual é relevante nesse emaranhado de conteúdo axiológico a que a mente humana recepciona. É mais que comum os disparates conclusivos quanto aos acontecimentos e fenômenos sociais.
Onde se encontrará objetividade nos testemunhos? E nos julgamentos? Aliás, escrever objetividade em julgamento é uma contradição por si só. Cada pessoa é uma complexidade, ali resume cultura, sentimento, ideologia, trauma, alegria, tristeza, paixão e vontade que, se fosse possível aferir cada um, ter-se-ia uma nova modalidade de diferenciação de identidade muito superior à mera impressão digital. Conhecer-se-iam a essência, facilitando o trabalho dos psiquiatras e psicólogos.
O que se proclamou como voz aos idiotas (Umberto Eco) dada pela internet contradiz com a condição humana. Não são idiotas, nunca serão. Estão em evolução na sua incompletude. Todos estão, estamos nós. Nascer Machado de Assis ou Kant não é regra.
O que fazer, então? Calçar as sandálias da humildade e saber ouvir com muita paciência. É tempo de acolhimento e não de dissensão. O entendimento, o conteúdo, leva à aceitação; o apego às formalidades, à discórdia.
Quem ainda não foi vítima de julgamentos precipitados? Não se desvencilha da alteridade. Isso não quer dizer que não se possa, energicamente, repelir os maldosos, os arrogantes e os inescrupulosos. A defesa própria é um princípio inerente ao convívio social.
A percepção dá sentido ao conteúdo da mente. Percebe-se de diferentes formas e densidades. E a mente traduz em atos o quanto percebido. Não tem como ser diferente, diferença há nos valores. Afinal, ‘Eu não sou o que acontece comigo. Eu sou o que escolho me tornar’ (Jung).
É por aí…
GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO (Saíto) tem formação em Filosofia e Direito, autor da página Bedelho.Filosófico no Face, Insta, Telegram, Twitter e YouTube.