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quinta-feira, abril 18, 2024
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As queimadas e a consciência social

Quando chegamos nesse período de inverno, começamos a nos preocupar com uma situação recorrente no Estado como um todo: as temíveis queimadas.

Quase sempre listado como um dos estados campeões em focos de calor, Mato Grosso ocupa uma triste posição de destaque a cada ano nesse sentido. Com o começo da estiagem e o declínio das chuvas, o cerrado começa perder umidade e com a vegetação mais seca, o fogo se propaga mais facilmente, trazendo aos moradores do estado um cenário de caos e tristeza.

É triste, pois ao abrir uma janela ao amanhecer, percebemos que o céu azul dá espaço ao tom cinzento e cálido das fumaças. Passamos então a conviver com o desconforto da fumaça desde o começo do dia, e que se arrasta por meses, tornando nossos dias sufocantes e pavorosos. Por consequência, temos hospitais tomados de crianças e idosos que sofrem com os problemas respiratórios, e que nesses tempos de pandemia, acabam por aumentar os riscos diante da doença.

Em 2020, vivemos algo que causou espanto com tamanha destruição causada pelas chamas. O Pantanal, destino turístico de turistas do mundo todo, viu o seu bioma virar cinzas em questão de pouco tempo. Plantações desapareceram por completo, animais silvestres morreram, alguns inclusive em extinção, e o cenário que representava a vida se transformou em poucos meses em um desastre ecológico sem precedentes no Estado de Mato Grosso.

Quando chegamos nesse período de inverno, começamos a nos preocupar com uma situação recorrente no Estado como um todo: as temíveis queimadas
Mesmo com as ações de contenção, os esforços não foram suficientes para atenuar o estrago causado, e que só foi ter certo alívio após o retorno das chuvas.

O estrago causado no Pantanal Mato-grossense no ano passado levará anos, talvez décadas, para se recompor. Mas afinal, será que estamos preparados diante do que vimos no ano anterior?

Nesse sentido, ações do poder público vêm sendo divulgadas no intuito de mostrar que algumas iniciativas podem contribuir para, pelo menos, atenuar as queimadas no estado.

O monitoramento das áreas verdes com a aplicação de multas para aqueles que provocaram as chamas já existiam no ano anterior e ainda assim vivemos uma tragédia natural que afetou sobremaneira a todos que aqui vivem.

Então, antes das ações de contenção das queimadas por parte dos atores públicos, será que não poderíamos rever alguns comportamentos que literalmente são as faíscas que acendem o pavio dessa destruição tão previsível?

Infelizmente, muitas vezes aprendemos apenas com os erros, e nesse caso, o que percebemos é que a aprendizagem não existe, e isso é notório desde o momento em que presenciamos, no auge de um período de estiagem, um vizinho ateando fogo no seu próprio lixo na porta de sua casa.

O exemplo deve vir com a mudança de atitude, seja em ambiente urbano ou rural, e o monitoramento não deve vir apenas dos recursos técnicos oferecidos pelo poder público, mas também do comportamento do cidadão como ser humano e pensar que os danos vão além dos causados a si próprio, mas aos seus parentes, amigos e todos a sua volta.

O dano é coletivo e devemos ter a percepção dessa condição, pois as denúncias, apesar de contribuírem no sentido de penalizar os autores desse crime, podem não ser suficientes para conter as chamas que se alastram muito rapidamente nesse período. Infelizmente, a percepção da complexidade dessa situação pode não ser bem compreendida por aqueles que ateiam o fogo, pois às vezes o interesse acaba por suprir os danos reais que essa atitude pode tomar.

Aquela ‘ velha conversa’ de preparar o solo para plantações ateando fogo, torna-se tolo e demonstra a pequenez e o egoísmo que é capaz de sobrepor à saúde alheia e o convívio social.

A nós, meros mortais que tentamos fazer a nossa parte, nos resta esperar que a consciência e a sabedoria sobressaiam para aqueles incendiários contumazes, e que possamos ter a esperança de dias ou quiçá, meses melhores.

Gian Franco Cardoso Baldo é investigador de Polícia.

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