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quinta-feira, março 28, 2024
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A água de beber em Várzea Grande

No governo de Arnaldo Estevão de Figueiredo (08/04/1947-01/07/1950), o município de Várzea Grande-MT foi emancipado, sendo nomeado o várzea-grandense – major Gonçalo Romão de Figueiredo (23/09/1948 a 26/07/1949) para exercer o cargo de prefeito, até a realização das eleições. Com as eleições de 1949, foi eleito Miguel Leite da Costa (PSD- 27/07/1949 a 31/10/1949.

Segundo Sarita Baracat este prefeito não foi eleito. Na verdade, ocupou o cargo por alguns dias, antes de ser aberta a urna do povoado de Souza Lima, no distrito de Bom Sucesso-VG, que havia sido impugnada. Após a abertura da urna constatou-se que o prefeito eleito e escolhido foi Gonçalo.

Só depois, foi dada a posse a Gonçalo Botelho de Campos – (UDN (06/11/1949 a 01/01/1951). No intervalo dos procedimentos eleitorais, ocupou a vaga de prefeito, Benedito Gomes da Silva – UDN (31/10/1949 a 05/11/1949), presidente da Câmara Municipal.

Conforme o engenheiro Noé Rafael da Silva, em 1952 foi iniciada a construção da primeira caixa d’água na Avenida Filinto Muller, em Várzea Grande e durante esse período a população usava água de poços e cacimbas para abastecer as suas residências. Essa obra foi realizada por iniciativa do prefeito Júlio Domingos de Campos, conforme Lei nº 05 de 17 de outubro de 1952.

Em meio às lembranças de sua história de vida, e que fazem parte de suas emoções, Sarita por algumas vezes recorreu aos sabores maiores proporcionados pela cidade e encontrados nas águas que bebia: “gostosa, doce, potável”. (…) em 1953, Sarita Baracat já reivindicava o serviço de água para Várzea Grande: (…) poderia alongar-me sobre os melhoramentos que a nossa cidade recebeu na minha administração. Terraplanagem, meio fio, limpeza das ruas, mais quero referir-me apenas ao serviço de abastecimento de água, que somente este digo sem falsa modéstia constitui uma grande realização e foi a minha maior preocupação, como é hoje do atual prefeito.

Quanto ao abastecimento público de água, Várzea Grande possuía, à época, três poços de água marcavam a grande várzea: o poço do gato, situado na conjunção com a Avenida Principal que servia água salobra.

O segundo, o poço do meio, situado no atual cruzamento da Avenida Filinto Muller com a Presidente Castelo Branco, feito de pedra cristal e a sua proteção superior, onde a boca do poço foi construída de pedra ganga onde, as carroças, em um grande número na cidade e as poucas charretes em manobras perfeitas de seus condutores estacionavam de ré, disputavam quem enchia primeiro o tambor de 200 litros de água. (…).

O terceiro poço chamado de poço da várzea, era localizado, onde se encontra o prédio da Exatoria da Secretaria de Fazenda, do Estado de Mato Grosso, em Várzea Grande. O terceiro poço é que tinha a melhor água para beber. Pura, potável, gostosa, doce, lembra Sarita.

Como vereadora Sarita Baracat foi incansável. Assídua às sessões. Conforme as atas do acervo da Câmara Municipal de Várzea Grande. Enérgica em suas atitudes, em nenhum momento Sarita Baracat deixou de aprovar projetos que beneficiassem Várzea Grande. Entre eles o de abastecimento de água.

Em 1948, Várzea Grande, a cidade amada de Sarita vai se tornando maior. O seu urbanismo vai tomando conta de lugares antes, pequenos povoados, vilas. Lugares estes que ajudaram a construir a vida política e a história de vida da mulher, mãe, política, professora Sarita Baracat de Arruda.

População precisa entender que ligação clandestina prejudica o sistema de abastecimento
No entanto, as obras do abastecimento de água não acompanhavam o crescimento da cidade. (…) a construção de um poço de água no prolongamento da Rua Santo Antônio; a execução de serviços de iluminação pública em Várzea Grande pela EFLA – Empresa de Força, Luz e Água; a construção de dois pontilhões sobre o córrego Laginha e Paratudo, e a água, sempre era mais difícil.

Na década de 1960, Várzea Grande, na ausência de infraestrutura básica como água e esgoto, era abastecida por diversos poços. Além dos acima lembrados, houve a perfuração de um poço semi-artesiano localizado quase em frente à igreja de Nossa Senhora da Guia, atual centro de Várzea Grande.

Este local abrigava um reservatório de uns cinco metros de profundidade e revestimento de concreto armado com raio de uns quatro metros. Anos mais tarde se fez chegar o progresso para dar suporte ao crescimento da cidade e fazer chegar em cada residência a sonhada água encanada. Construiu-se uma caixa d`água no centro da cidade, próximo ao poço Rafael e investiu-se na perfuração do primeiro poço artesiano.

Para abrir as ruas, atual Avenida Salim Nadaf e a rua principal no bairro Cristo Rei, com o objetivo de ali implantar uma rede de abastecimento de água, Sarita Baracat conseguiu com o senador Fernando Correa da Costa (UDN), os recursos financeiros, entre os anos de 1959-1961 e 1967-1975 e, também, do então Senador da República, pelo estado de Mato Grosso à época, junto ao Ministério da Saúde, para implantar a rede de água em Várzea Grande, além da ajuda do ex-deputado federal e ex-governador de Mato Grosso José Garcia Neto, parceiro da UDN.

Em 1973 foram concluídos em Várzea Grande, a perfuração de 3 poços artesianos, sendo um para a zona urbana e dois para a zona rural e a inauguração no dia 15/05, aniversário de nossa cidade, “com bombas e caixas d´águas”, conforme registrado em atas, reivindicação do vereador Emanuel de Arruda.

Na década de 1960 foi construída a Estação de Tratamento de Água -1(ETA Velha), com vazão de 160 l/s, na Av. Ulisses Pompeu de Campos. Sarita Baracat governou Várzea Grande de 1967 a 1970. Uma das principais obras de sua administração foi à rede de abastecimento de água tratada e a iluminação pública, o bom relacionamento com a população e a gestão escolar.

Em 1968, Sarita Baracat construiu a adutora de abastecimento de água composta de três conjuntos moto bomba com recursos do governo federal para suprir de água potável o município de Várzea Grande, além de adquirir postes para munir o município de iluminação pública.

Em 1983, Várzea Grande executou 2.000 ligações domiciliares, obra iniciada em dezembro de 1982 e entregue em setembro de 1983, com ampliação da sub adutora do morro do Urubu ao núcleo habitacional Izabel Campos, obra iniciada em julho de 1983 e entregue em outubro do mesmo ano. Execução de rede de distribuição com 105.516m, obra iniciada em 1983 e entregue em julho de 1984. Execução de uma elevatória de água bruta/ampliação da ETA e reservatório de 2.050m cúbicos, além da ampliação do sistema elétrico do morro do urubu e melhorias das instalações da ETA.

O sistema de abastecimento de água foi ampliado com a perfuração de vários poços. Entre eles, em 1983 – 2 poços; em 1984 – 2 poços. No entanto, a água de beber não conseguiu acompanhar o crescimento da cidade industrial.

Entre os anos de 1987 e 1988 foram perfurados 11 poços. Possuía dois pontos de captação superficial/ta-03-03 unidades com 58% de funcionamento, poços profundos/simples com desinfecção num total de 27 unidades, três reservatórios com volume total de água de 3.740m cúbicos; 443.079m de rede de distribuição e 25.213 unidades de ligações faturadas, cujo volume faturado era de 455.824m cúbicos/mês. Quanto ao índice de hidrometração registra 64,4% de atendimento, em uma população de 63%. Naquela época já registrava o comprometimento do sistema em 74,3% e um índice de perdas de água de 56,5%.

Em 1991, Várzea Grande contava com a construção de ETA com capacidade de 150 litros/segundo, adutora com 9.500 metros, sete melhorias em sistema da época, perfuração de 6 poços e mais de 100.000 metros de rede de distribuição. Em 1994 foi construída a ETA -2 (ETA Nova) tipo convencional, na Avenida Júlio Campos com vazão de 260 l/s e captação rio Cuiabá. Em março de 2013 foi implantada ETA compacta, com capacidade nominal de 100 l/s. Ao longo do tempo foram perfurados 82 poços tubulares profundos complementares à estação de tratamento de água (l).

Na década de do ano 2000, foi implantado o sistema independente de água para atendimento exclusivo à comunidade da “Passagem da Conceição”, ETA compacta com vazão de 100m³/dia. Em 2020, na gestão de Lucimar Campos autoriza as obras da nova Estação de Tratamento de Água na Avenida 31 de Março, no Cristo Rei com capacidade de produção 320 l/s, cujo funcionamento previsto para o segundo semestre deste ano. Em curso também está sendo construída a ETA Chapéu do Sol com capacidade de produção de 250 litros/seg.

Um dos grandes sonhos do secretário de estado de cidades “Nico Baracat” era dotar a cidade de infraestrutura de saneamento. Não conseguiu. Faleceu cedo. No entanto, o seu filho Kalil Baracat, atual prefeito da cidade vem atuando nesse sentido como fez a sua avó Sarita Baracat e a ex prefeita Lucimar Campos. É preciso de ajuda e paciência da população porque o problema de saneamento na cidade é antigo e, nenhum prefeito foi a fundo com os projetos que custam caro e ficam soterrados. Ninguém vê.

A população várzea-grandense precisa entender que ligação clandestina prejudica o sistema de abastecimento de água da cidade e, nesse sentido precisa colaborar e, ao mesmo tempo, poupar o pouco que tem. A ligação clandestina provoca perdas de água, justamente aquela que vai faltar para o seu vizinho.

Neila Barreto é jornalista, mestre em História e membro da AML.

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