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sábado, abril 20, 2024
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O Pantanal de futuro incerto

Mais de 3,5 milhão de hectares já foram destruídos pelo fogo Foto: Mayke Toscano

Por Onofre Ribeiro | Em 2020 o Pantanal de Mato Grosso ocupou os cenários mundiais e nacionais pelos incêndios que pipocaram. Sem experiências anteriores de vivências em incêndios nessa proporção, teve muito mais palpites que ciência e efetividade de compreensão. A dolorosa verdade é que não existem estudos sérios sobre o Pantanal. O pouco que existe vem da Universidade Federal de Mato Grosso, suspeitos sob fortes influências ideológicas. Existe até um centro de estudos do pantanal, financiado pelo fundo federal do FINEP. Sua base é a reserva natural do Sesc Pantanal, com 106 mil km2. Fora esses estudos que estão alinhados com a ideia de esvaziar o pantanal e transformá-lo num bioma virgem, nada mais se estudou sobre a região.

Por essa razão os incêndios atuais estão correndo junto com o vento. Os fazendeiros pantaneiros vivem da história tradicional de cerca de 300 anos. O governo de Mato Grosso trabalha na fiscalização e multas sobre infrações consideradas na legislação estadual que está em discussão.

Os estudos acadêmicos trabalham na direção do politicamente correto que, de certo modo, domina o pensamento universitário estadual.

Ao contrário de Mato Grosso, os fazendeiros pantaneiros de Mato Grosso do Sul alcançaram realidade racional. Com mais articulação política, eles obtiveram autorização para o manejo de pastagens e todas as atividades históricas da pecuária regional

Efetivamente o que se tem é um emaranhado de fumaça econômica, histórica, política e ambiental. Leituras diferentes e contraditórias dentro do mesmo tema. Um cabo de guerra completamente irracional.

Os fazendeiros do pantanal estão lá há cerca de 300 anos. Desenvolveram uma cultura econômica, política e de convivência humana com o Pantanal.  Em 1997 surgiu no cenário pantaneiro a Reserva Particular do Patrimônio Natural Sesc Pantanal, com 107 mil hectares formados a partir da compra de várias fazendas.

A pacuária está presente no Pantanal desde o final dpo século 17 Foto: Mayke Toscano

Aqui começa o cenário das contradições atuais do Pantanal. Imediatamente a reserva afastou o homem e o boi de toda a área. Na época os fazendeiros pantaneiros históricos e habituados a lidar coma sazonalidade da região tentaram ser ouvidos. Em vão. A experiência deles dizia que o “o boi é o bombeiro do Pantanal”. Escrevi uma série de cinco artigos em 2002, a partir da tese de mestrado do professor Luiz Alberto Gomes da Silva. Ele afirmava que o capim subiria muito e se tornaria altamente combustível sem o equilíbrio do boi comendo e pisoteando o mato. Porém, as visão dos criadores da reserva vinha de apreciações acadêmicas encomendadas em pareceres e estudos superficiais para dar sustentação ao discurso ambiental da reserva.

De outro lado, a Assembleia Legislativa de Mato Grosso aprovou leis que impedem quaisquer manejos no Pantanal. Tentativas resultam em multas pesadas. Isso inclui queimadas de controle sazonal, limpeza de pastos, abertura de poços para o gado ou de represas em campo aberto.

Hoje os fazendeiros pantaneiros acabaram aos poucos sendo criminalizados por teorias ambientalistas contaminadas ideologicamente.

O futuro do Pantanal assemelha-se muito ao da Amazônia: ser estigmatizado e com poucas chances de defesa. Ao contrário de Mato Grosso, os fazendeiros pantaneiros de Mato Grosso do Sul alcançaram realidade racional. Com mais articulação política, eles obtiveram autorização para o manejo de pastagens e todas as atividades históricas da pecuária regional. A pecuária de lá cresceu, modernizou-se, e trouxe junto um forte turismo. Esse é um ambiente sustentável e desejável.

O futuro do Pantanal de Mato Grosso é muito incerto.

A prevalecer a influência ideológica vinda dos meios acadêmicos, principalmente da Universidade Federal de Mato Grosso, que enxerga o Pantanal vazio de gado e de gente, tem um caos no cenário próximo.

O mundo acadêmico e ambientalista se organiza em rede. O mundo da economia pantaneira de Mato Grosso, fragmentado. A política estadual, alienada.

Qualquer tese agora sobre os destinos do Pantanal será mera teoria!

*Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso

onofreribeiro@onofreribeiro.com.br   www.onofreribeiro.com.br

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