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sexta-feira, abril 26, 2024
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Com transparência não se negocia, pratica-se desenvolvimento

José Aparecido dos Santos, carinhosamente chamado de Cidinho, é daqueles que abraça uma causa e só larga quando os resultados aparecem. É o que ele diz nessa entrevista. Empreendedor do ramo frigorífico, de ração animal e produção de biodiesel, ele inicia uma nova fase empresarial em um projeto de integração na criação de frangos no Médio-Norte de Mato Grosso. “Vamos agregar valor à produção, gerar emprego, renda e realizar sonhos de dezenas de famílias que precisam de apoio”, define Cidinho. Sua trajetória política o projeta como consultor e até conselheiro em momentos de grande efervescência política. Foi prefeito de Nova Marilândia entre 1993 e 1996 e entre 2001 e 2008. Presidiu a Associação Mato-grossense dos Municípios (AMM) nos biênios 2005/2006 e 2007/2008. Nas eleições de 2010, foi eleito primeiro suplente de Blairo Maggi ao Senado Federal. Assumiu o cargo em diversas oportunidades, sendo a última em virtude da nomeação de Maggi para ocupar o Ministério da Agricultura do governo Michel Temer. Se ainda disputará cargo eletivo? “O destino irá dizer”, conta Cidinho.

Cidinho Santos: “Sou apaixonado por Mato Grosso e digo, de boca cheia, que vamos continuar no topo em todos os sentidos”

O senhor é gestor público com vasta experiência. Já foi prefeito três vezes, secretário de Estado e senador. A gestão pública avançou ou ainda sofre com a burocracia?

O cenário da gestão melhorou em todos os sentidos. Hoje as prefeituras contam com funcionários mais qualificados do que há 30 anos. Sem contar que temos agora a troca de informação online. A internet encurtou distância, reduziu tempo e aumentou a eficiência do serviço público. Sem contar a gama de cursos e capacitações que os servidores têm à disposição também online. No passado sofríamos muito com a pouca qualificação, principalmente no interior. Sem contar a eterna briga pela liberação de repasses como o Fundo de Participação dos Municípios. Hoje temos leis mais claras e rígidas que normatizam esses repasses.

Nesse momento de pandemia os municípios foram beneficiados com o afrouxamento das regras para liberação de recursos.

Exatamente. Não vemos hoje tantos municípios com salários atrasados ou obras paralisadas como antes de 2019. Acho que o discurso do Paulo Guedes, de que seria mais Brasil e menos Brasília, deu certo. De certa forma, o Governo Federal tem feito a sua parte no tocante a liberação de recursos a estados e prefeituras. Além dos repasses obrigatórios, houve uma atenção diferenciada para evitar um colapso total na economia dos municípios.

Centralizar arrecadação de impostos pode facilitar para o contribuinte, mas sempre haverá uma desconfiança por parte de governadores e prefeitos

Mas, ainda há muitos gargalos. A reforma fiscal e tributária é exemplo.

Quando falamos em reforma tributária aparecem às dificuldades. O contribuinte quer pagar menos impostos. Já estados e municípios querem uma reforma para terem mais independência e não querem abrir mão daquilo que já têm direito. O Estado tem o poder de arrecadar o ICMS e o município tem o ISS, IPTU, entre outros. Já a União quer uma reforma para também arrecadar mais. Por outro lado, há uma desconfiança surgida lá atrás em relação à Lei Kandir que levam governadores a não acreditar que a União faça uma reforma tributária onde os entes federados não percam. Quando foi criada a Lei Kandir foi criado um fundo de compensação das exportações, mas não foi cumprido da forma como deveria. Os governadores precisam cobrar e até brigar pela liberação dos recursos. Centralizar arrecadação de impostos pode facilitar para o contribuinte, mas sempre haverá uma desconfiança por parte de governadores e prefeitos quanto à liberação das fatias desse bolo tributário.

Apesar de estados e municípios estarem com os cofres equilibrados, a pandemia provocou desemprego. Prefeitos, principalmente, terão que dar mais atenção ao social nesse momento?

Tenho conversado com o governador Mauro Mendes e com alguns prefeitos sobre ações que geram emprego muito rápido, principalmente a construção civil. O governo federal paralisou as obras do Minha Casa Minha Vida, mas deve retomar com o Casa Verde e Amarela o que deve dar um novo ânimo ao setor. Os gestores devem movimentar as suas bancadas para conseguir parte dessas obras. No entanto, o governador Mauro Mendes se antecipa e vai lançar, em breve, um grande programa habitacional para gerar empregos e proporcionar novas moradias em municípios com fortes demandas.

Sempre desafiei os nossos empreendedores a investirem mais na agregação de valores da nossa matéria-prima

Com uma produção agropecuária tão forte, Mato Grosso também poderia apostar mais na agroindústria para gerar empregos?

É o meu sonho e o desejo do governador Mauro Mendes. Somos campeões nacionais em produção e, se Mato Grosso fosse um país, superaria alguns países em produção agropecuária. Para isso, é preciso incrementar o cenário com um programa consistente de transformação da matéria-prima em produtos com valor agregado. Temos que deixar de ser apenas exportador de grãos e plumas. Temos que criar mecanismos para atrair indústrias e ampliar a evolução que temos no setor de proteína animal, vegetal e fibras, por exemplo. Diante do enorme potencial de grãos temos muito espaço para novas plantas frigoríficas para frangos e suínos, principalmente. O Estado tem essa disposição, mas o esforço deve ser conjunto envolvendo também os setores produtivos. Sozinho o governo não faz nada. Sempre desafiei os nossos empreendedores a investirem mais na agregação de valores da nossa matéria-prima. Vou continuar nessa luta.

Qual cenário o senhor vislumbra pata os próximos anos?

Tenho conversado com muitos empresários que chegam para prospectar negócios em Mato Grosso. Há poucos dias conversei com um empreendedor do Paraná que processa amido de milho e fornece a grandes indústrias. Ele me disse que hoje vê uma segurança jurídica em Mato Grosso que não se tinha anos atrás. Para se conseguir incentivos fiscais hoje, por exemplo, não há o risco de agentes agindo pelos flancos. Há transparência e segurança ao investidor. Quando o governador Mauro Mendes definiu o novo Prodeic, estabeleceu-se um caminho transparente onde se acessa o programa via online e sem intermediários. Esse é o diferencial que me faz enxergar um cenário bastante otimista para hoje, não apenas para o futuro. Atualmente, a empresa que processar o milho e consumir em Mato Grosso agregando valor, não paga ICMS e também o Fethab. Só paga quando exporta. Da mesma forma quando se transforma a soja em biodiesel ou farelo para ração animal também há o benefício. Essa é uma forma de incentivar a instalação de novas indústrias. Nisso eu acredito e as coisas vão acontecer, pode apostar.

A ampliação da malha ferroviária consolida esse processo?

Consolida e eleva Mato Grosso ao patamar mais alto da logística de transporte de grãos no Brasil. Temos a Rumo que sairá de Rondonópolis e irá até Lucas do Rio Verde, passando por Cuiabá. Também a Ferrogrão saindo de Sinop até Miritituba, no Pará.  Por último, a Fico que vai até Água Boa e, futuramente, vai chegar ao Médio-Norte de Mato Grosso. A ferrovia estadual lançada pelo governador Mauro Mendes vai proporcionar o aumento da produção, agregação de valor ao produto primário, intensificação da troca de mercadorias com outros estados, além de mudanças conceituais e muita esperança à sociedade.

Mato Grosso tem o meu carinho e dedicação. Sou grato pelo retorno que o estado me proporciona enquanto cidadão e empreendedor

Só na União Avícola o senhor gera mais de 1.300 empregos diretos no Médio-Norte de Mato Grosso. Essa escala deverá ser ampliada com um projeto de integração. Como será isso?

O município de Nova Marilândia, assim como outros na sua área de influência, nasceu da extração mineral mas não conseguiu se sustentar com o garimpo. A riqueza mineral foi embora com o tempo e ficou a pobreza e a degradação ambiental. Hoje a realidade é outra desde a implantação do frigorífico de aves. Geramos empregos e agregação de valor na criação e abate de frangos. Começamos de forma artesanal e agora estamos numa fase de alta tecnologia. Muitas famílias que haviam ido embora por falta de oportunidade retornaram ao município na última década. Percebemos isso e assumimos o compromisso de ampliar a geração de emprego e renda por meio do sistema integrado entre produtores e o frigorífico. Agora só extraímos esperança e novas oportunidades. Atualmente, só garimpamos sonhos concretos e projetamos uma nova realidade econômica e social para a região.

Para que isso aconteça, é fundamental o apoio do Estado por meio da Desenvolve MT?

Exatamente. A Agência de Fomento do Estado é o grande elo social que o governo tem para gerar emprego e renda. A Desenvolve MT é imprescindível ao pequeno investidor, que se torna grande na medida em se forma uma teia de empreendedores em vários municípios. Estamos construindo uma parceria entre a agência e a União Avícola que vai render bons resultados na geração de renda, agregação de valor e, sobretudo, um efeito cascata na economia local. Cada família que se tornar parceira do projeto de integração vai gerar empregos e novos consumidores. Isso gera divisas ao Estado e ao Município. Vale lembrar que a própria União Avícola será avalista, garantindo o cumprimento dos contratos.

Mesmo sem exercer mandato político atualmente, o senhor continua numa posição de líder e orientador do desenvolvimento econômico regional. Como isso ocorre?

Para fazer o que faço enquanto empreendedor seja na economia, terceiro setor ou no social, não preciso de mandato político. Sempre atuei assim, mesmo antes de me tornar prefeito ou senador da República. Sempre converso com o governador, prefeitos, vereadores ou com integrantes da bancada federal. Há sempre uma boa sugestão ou informação para se trocar.  É a minha contribuição para construirmos um estado melhor para se viver, justo socialmente e forte economicamente. Sou apaixonado por Mato Grosso e digo, de boca cheia, que vamos continuar no topo em todos os sentidos.

Até hoje as pessoas o chamam de senador. É um indício de sucesso político e de que o senhor disputará novamente algum cargo eletivo?

Sempre me dediquei muito ao que faço. Quando fui senador, noventa por cento do meu tempo era para as atividades parlamentares. Agora, enquanto empreendedor inverteu esse tempo. Mesmo assim, a atividade política bate à porta e não há como deixar de cumprir essa missão. Seja orientando, seja articulando apoio. Deixei um legado no Senado e as pessoas se lembram disso, evidentemente. Foi um mandato ativo e sempre votei no que achei justo. Quanto ao meu futuro político, as coisas sempre aconteceram de forma natural em minha vida. Se o destino me apontar esse caminho, vou abraçá-lo e servir a Mato Grosso da melhor forma possível como sempre fiz. Mato Grosso tem o meu carinho e dedicação. Sou grato pelo retorno que o estado me proporciona enquanto cidadão e empreendedor.

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