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sexta-feira, abril 19, 2024
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Acrimat, cinquentona com maturidade e os olhos no futuro

“Os desafios são constantes e a entidade se fortalece a cada um deles”, diz Oswaldo Pereira Ribeiro Junior

No momento em que a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) completou 50 anos, a pecuária estadual – que já enfrentava dificuldades relativas à logística e insegurança jurídica – enfrentou um dos maiores dilemas da atividade nos dias atuais. Incêndios florestais criaram um clima de insegurança e desilusão entre os criadores. No entanto, o otimismo é característica de quem começa a lida antes de o sol apontar no horizonte e as perspectivas brotam tão fortes quanto o capim no pasto. O pecuarista Oswaldo Pereira Ribeiro Junior, presidente da Acrimat, diz que os desafios são constantes e a entidade se fortalece a cada um deles. Apesar do setor ainda conviver com antigos gargalos, o criador acredita em dias melhores e na realização do maior sonho do setor. “Precisamos de segurança jurídica e mais apoio oficial para garantir a sustentabilidade do negócio e a permanência do criador no campo”, defende o presidente da Acrimat.

Já são 50 anos de história. Muito se avançou, mas ainda falta muito a ser conquistado?

Sim. A vida é dinâmica e ainda há muito a ser feito. Queremos nos tornar uma entidade cada vez mais representativa, com número cada vez maior de associados. Queremos que nossas informações cheguem a um número cada vez maior de produtores e que esses tenham segurança para poderem trabalhar, respeitando as leis e reconhecimento de toda sociedade como produtores de alimentos.

Nesses 50 anos de atuação da Acrimat, qual o momento mais expressivo e também o mais tenso?

Nesses 50 anos o momento mais expressivo foi a estadualização da Acrimat em 2008, quando passou a ser a voz do pecuarista de corte em Mato Grosso. Os desafios são constantes e a entidade se fortalece a cada um deles. Podemos citar a operação Carne Fraca, o retorno do Funrural, Fethab e agora os incêndios no estado, sobretudo no Pantanal que tem dizimado pastagens, gado e ceifado inclusive vidas humanas.

A pecuária vive um momento de tensão com os incêndios florestais queimando pastagens e bois. Qual o impacto desse desastre na atividade em curto prazo?

Em curto prazo o maior desafio é o produtor que perdeu parte significativa das suas pastagens e vive o dilema entre ter que liquidar o rebanho, arrendar pastagens ou gastar com rações. Em seguida vem a reconstrução das cercas, currais e replantio das pastagens onde for permitido.

É necessária uma ação multidisciplinar envolvendo os setores públicos e privados. Sabemos que são diversas ações que podem minimizar os riscos

É possível que haja falência total de muitos pecuaristas que já vinham enfrentando dificuldades?

Mato Grosso tem mais de 105 mil produtores de diversos tamanhos e situações financeiras. O impacto de um incêndio em uma fazenda é semelhante a se tivesse ocorrido em uma indústria. É possível que o patrimônio de muitos sofra perdas irreparáveis ou de longo período de recuperação.

Esse reflexo também chega a outros elos da cadeia produtiva, como os frigoríficos, além de quem está na ponta final, que é o consumidor?

Existe todo um elo na cadeia e na pecuária não é diferente. Todo impacto em um dos elos, sobretudo o da matéria-prima impacta também na indústria e no consumidor final.

Como é ter que recuperar a pastagem destruída, cercas, curais e ainda trabalhar inseguro sabendo que não há um programa eficaz de prevenção ao incêndio florestal?

A recuperação das pastagens e do patrimônio vai custar dinheiro e levar tempo. Nesse momento temos que terminar de combater os incêndios que ainda persistem uma vez que o período chuvoso ainda não começou totalmente e só ele colocará um ponto final no risco.  Em seguida, é necessária uma ação multidisciplinar envolvendo os setores públicos e privados. Sabemos que são diversas ações que podem minimizar os riscos: Limpeza da faixa de domínio das estradas municipais estaduais e federais por parte do poder público; Utilização do fogo frio para limpeza e aceiro das margens das rodovias; Investimento e preparo das brigadas para rápida ação; Políticas públicas que permitam a presença de bovinos no pantanal que funcionam como verdadeiros bombeiros, pois ingerem a massa que serviria de facho para os incêndios e a presença do homem no pantanal, verdadeiro guardião das áreas e que ano a ano vem tendo que se evadir do pantanal por falta de incentivos.

A estação da seca é o período que determina a eficiência de desempenho zootécnico do rebanho. Isso em condições normais. De que forma os incêndios vão interferir em questões como idade de abate, taxa de natalidade e produção por hectare ao ano?

As técnicas de suplementação utilizadas no período seco tais como sal proteinado, rações concentradas. A quantidade desse produto é ofertada no cocho para auxiliar os bovinos a digerirem as pastagens secas. Em caso de destruição dessa vegetação os custos serão maximizados porque terão que ser substituídos por uma dieta total como se faz em confinamento o que encarece muito os custos de produção e em algumas categorias ou faixas etárias chegam a inviabilizar a produção.

Já se fala em responsabilizar pecuaristas pelos incêndios no Pantanal. Qual a posição da Acrimat?

O ônus da prova é sempre de quem acusa. Certamente esses incêndios não podem ter sido provocados por alguém em sã consciência. Se houve responsáveis diretos pelos incêndios, uma vez comprovada formalmente sua autoria, eles precisam responder civil e criminalmente sejam eles pecuaristas ou não. Mas sabemos que diversos foram os fatores. Tivemos uma das secas mais longas da história falta de gado no pantanal, acidente de carro e descarga em redes elétricas. Várias foram às origens e cada foco tem que ser apurada a sua origem.

Qual é o maior sonho do todo pecuarista no atual momento?

Ter segurança jurídica para poder exercer sua atividade que é de risco e de longo prazo e ser remunerado para poder ter uma vida digna e poder investir para ser cada vez mais competitivo.

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